Título: Uma Duas
Autor(a): Eliane Brum
Editora: Leya
Ano: 2011
Nº de páginas: 176
“E
ela sente que nunca mais o grito cessará, que aquele grito é para sempre, é um
grito para toda a vida e para além da vida. Porque agora ela alcança a
inteireza do horror. E gritos são coisas que não viram palavras, palavras que
não podem ser ditas. Não há como escapar da carne da mãe. O útero é para
sempre.”
Uma
Duas é uma obra sobre relação entre mãe e filha. O pai? Deixou o lar. Bem,
isso poderia ter aproximado as duas, mas não foi assim que as coisas se
desenrolaram. O que aconteceu mesmo foi que elas passaram a vida inteira se
maltratando e se comportando como estranhas debaixo do mesmo teto.
O passatempo preferido de Maria Lúcia era
infernizar a vida da filha, a jornalista Laura. No fundo, elas não podiam ficar
nem um dia longe uma da outra. A necessidade que tinham de se odiar era uma
forma de demonstrar que se amavam, apesar de tudo.
Um sério problema de saúde afeta essa
convivência de maneira assustadora. Diante da possibilidade de perder a mãe,
Laura se dá conta de que se importa e de que gosta dela muito mais do que
poderia imaginar.
“Como
sempre, esquece onde está enquanto escreve. A escrita é um lugar que ela pode
habitar. É reconfortante escrever sobre a vida dos outros. Esta é a melhor
parte de ser jornalista. Poder escrever sobre uma realidade que não precisa
virar ficção para ser pronunciada.”
As personagens criadas por Eliane Brum
conseguiram me dividir durante todo o livro. Em um momento, eu gostava delas,
me sensibilizava com a dor da mãe e da filha, mas logo depois eu me irritava com
certas atitudes e queria abandonar a leitura.
Maria Lúcia é uma mulher extremamente
amarga, ranzinza, que reclama de tudo. Laura tem um problema sério de
identidade. Às vezes, ela se comporta como uma criança de 6 anos, querendo
chamar a atenção das pessoas, principalmente da mãe. O que as duas têm em comum
são os traumas que carregam.
“Teria
preferido que Laura fosse vendedora de qualquer coisa a jornalista. Nunca achei
decente esse negócio de escrever, pior ainda sobre a vida alheia, como ela
fazia até pouco tempo. E agora estou aqui, escrevendo numa cama como se disso
dependesse a minha vida.”
Como as personagens têm mentes perturbadas,
a narrativa se torna um pouco estranha. Entretanto, é assim também que o leitor
consegue se sentir íntimo delas e pode compreender aquela dor que as afeta de
forma tão profunda.
Foi uma leitura complexa, mas que valeu a pena. Podem anotar a dica.
Olá,
ResponderExcluirEsses livros envolvendo dores profundas e todo tipo de sofrimento mexem muito comigo, na verdade eu até evito ler porque nunca saio bem desse tipo de leitura.
Beijos.
Memórias de Leitura - memorias-de-leitura.blogspot.com
Olá, Inês.
ExcluirA história é realmente triste. Mexe mesmo com a gente.
Beijos!
Oi Ygo!
ResponderExcluirParece ser um livro cuja história fica com a gente mesmo depois que acaba... Como a Inês comentou, eu também evito esse tipo de leitura, porque depois fico sofrendo por dias. Então não sei se eu leria.
Beijos,
Sora - Meu Jardim de Livros
Olá, Sora.
ExcluirSim, o livro é bastante intenso. Fiquei remoendo a história por um tempo. Ainda assim, recomendo a obra. Eliane Brum tem um texto maravilhoso.