quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Carta a um filho ingrato




Um dia, eu tive uma família completa, dinheiro e felicidade. Hoje, carrego apenas um buraco no peito.

Por que me abandonou? Por que não me deu a chance de envelhecer ao teu lado?

Meus fios de cabelo branco já não aguentam mais tanta dor.

E a educação que sua mãe e eu lhe passamos? Ah, falando nela, meu peito chega a doer de saudades.

Lembra de como éramos felizes? Não passávamos nenhum aniversário longe um do outro, almoçávamos todos juntos, celebrávamos a Páscoa, o Natal...

Se ela estivesse aqui, teria sido diferente?

Minha saúde já não é a mesma. A coordenação motora está comprometida, assim como a memória. Virei um chato, amargurado.

Tenho enfrentado muitos desafios aqui. Não consigo tomar uma sopa sem me sujar. Não gravo os nomes dos assistentes. Não tenho forças para tomar um banho sozinho. E o pior: voltei a usar fraldas.

O tempo passou, meu filho. Só queria uma chance de voltar a ser livre. Venha me buscar. Apesar de tudo, ainda terás meu perdão.


Ygo Maia. 24 de dezembro de 2064.

2 comentários:

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