Autor(a): Eliane Brum
Editora: Leya
Ano: 2014
Nº de páginas: 144
“De
algum modo, o jardim manteve intacta uma porção da minha sanidade. Da infância,
somos todos sobreviventes.”
“Glória, glória, aleiluia!”. Essa
foi a primeira frase que a jornalista Eliane Brum conseguiu ler, quando ainda
era bem pequena. O início de uma intensa história de amor com as palavras se
deu no meio de uma missa de domingo.
Meus
desacontecimentos é um livro com
pequenos contos e crônicas sobre a relação de Eliane Brum com as letras – que
beira a obsessão, diga-se de passagem. A gaúcha narra a vida, mas também a
morte, nos mais diversos sentidos dessas palavras antônimas.
“Escolhi
viver sem fronteiras definidas, nações não me interessam, limites só me
importam os da ética. Tenho um coração andarilho, um corpo mutante, uma mente
transgênera. Sou irmã, mãe, filha, homem, cúmplice, bicho bicho, bicho humano,
árvore, erva-daninha, pedra, rio. Vírus. Sou todas as cores, todos os sexos,
todas as línguas. Sou palavra em palavras.”
Por vezes, o leitor pode achar o
texto de Brum demasiado dramático, como na parte em que ela conta com detalhes
um atentado que culminou na morte de uma barata, ou ainda quando ela relembra o
dia em que tentou, com retumbante fracasso, incendiar o prédio da prefeitura de
Ijuí, cidade onde nasceu.
Analisando de outra forma, o leitor
também pode ver que o estilo da autora ao contar histórias, vem de um olhar
apurado e extremamente sensível. A jornalista brinca com as palavras e consegue
transmitir belas mensagens sobre assuntos aparentemente banais. Essa marca
também está presente no livro A vida que
ninguém vê (clique aqui), em que anônimos viraram protagonistas nas mãos
dela.
“Ser
contadora de histórias reais é acolher a vida para transformá-la em narrativa
da vida. É só como história contada que podemos existir. Por isso escolhi
buscar os invisíveis, os sem voz, os esquecidos, os proscritos, os não
contados, aqueles à margem da narrativa. Em cada um deles resgatava a mim mesma
– me salvava da morte simbólica de uma vida não escrita.”
Esse é um livro para se ler com
calma, mergulhar fundo e, acima de tudo, sentir cada palavra escrita por Eliane
Brum. Fica a recomendação!
Visite o site da jornalista clicando aqui. |
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