Título: O toque do criador
Autor: Francisco José Espínola
Editora: Multifoco
Ano: 2022
Nº de páginas: 412
“Esta é uma obra escrita com amor e humor, porque humor é quase amor.” (p. 57).
Já comentei aqui no blog que um dos meus hobbies além da leitura é entrar no Facebook para ver e compartilhar memes, rir um pouco e me distrair. Também cheguei a falar o quanto é desanimador passar alguns minutos lendo os comentários das publicações, especialmente nas páginas dos grandes portais de notícias do país.
Porém, foi em uma dessas experiências despretensiosas que eu encontrei um alívio cômico em meio a tantos ataques e discursos de ódio: Francisco José Espínola, o gênio dos trocadilhos e das sacadas mais criativas da internet. Saiu uma notícia curiosa ou inusitada? Lá estava ele dando o ar, ou o vendaval, da sua graça.
“Humoristas que conheço consideram que só existe o humor que tem um alvo a ser criticado. Acabei por criar, com o advento da possibilidade de interagir com as notícias, uma nova forma de humor, baseada apenas na criatividade. E era disso que a sociedade necessitava naquele meio depressivo e odioso de comentários negativos.” (p. 79).
O sucesso do mestre da criatividade na web foi tão grande que as pessoas começaram a esperar o comentário dele nas publicações para comentarem logo em seguida. Os fãs se “amontoavam” para sair no print do mito Francisco, um registro que se tornaria uma publicação na página Grandes Comentários da Internet, administrada por ele na rede do tio Zuckerberg.
Francisco José Espínola tem uma capacidade incrível de fazer associações entre coisas que, aparentemente, não apresentam nenhuma relação. Mais do que criatividade, é nítido que ele tem uma inteligência fora da curva. Por trás de determinadas piadas, há muito conhecimento de mundo, bagagem cultural, vivência, curiosidade e interesse em aprender sobre qualquer coisa.
Entre um devaneio e outro, um trocadilho aqui e outro ali, o autor fala também sobre o retorno das pessoas que o seguem. Ele se alimenta dos feedbacks que recebe, pois servem de parâmetro para identificar se o comentário feito teve um alto ou um baixo nível de criatividade. Assim, estimula constantemente o cérebro e se desafia a cada nova publicação.
No entanto, o gênio comentarista não é unanimidade. Há quem o considere inconveniente e o acuse de não ter empatia em certos momentos, por brincar com temas delicados. No livre (como se refere ao livro), ele explica que não o faz para magoar quem quer que seja. Apenas enxerga as coisas de outra forma e tenta trazer um pouco de leveza até para as situações mais duras do dia a dia.
“Já devo estar na casa das dezenas de milhares de comentários. Em nenhum deles podem-se encontrar sinais de ódio. Zero. Quer dizer, exceto nos comentários sobre Los Hermanos, porque eu sou humano, afinal de contas, e errar é Hermano. Brincadeira, galera do Los Hermanos. (sei).” (p. 149).
Se vocês pretendem ler algo comum, com formato tradicional, podem esquecer O toque do criador. Francisco manda a real logo no início para que a pessoa saiba onde está se metendo e escolha continuar ou abandonar a leitura. Por minha conta e risco, mergulhei fundo. Ainda bem!
O livro quebra todas as regras e boas práticas que conhecemos no meio literário. A introdução é enorme, as imagens aparecem do nada, algumas ideias são interrompidas por outras e os pensamentos de Espínola saltam das páginas em um ritmo até difícil de acompanhar. Para mim, tudo certo. É assim que funciona uma mente criativa, e eu não esperava que fosse diferente.
“Sócrates só sabia que nada sabia, por isso, ele tinha que chutar. Acabou chutando tão bem que fez sucesso na Copa de 82. Perceba que Sócrates foi bastante coerente. Ao dizer que ele sabia que nada sabia, então, algo ele sabia: que nada sabia. Daí se segue que ele estava errado ao dizer que sabia que nada sabia. E a conclusão é que ele realmente não sabia de nada. Espero ter sido claro, porque reli e não entendi nada.” (p. 267).
Outro detalhe interessante são as menções frequentes que o autor faz ao filho. É bonito e tocante. Mas tudo isso no meio de piadas, já que a mente dele não tira mais do que dois parágrafos de férias do humor. Enquanto lia, até imaginei como seria ter o Francisco como parente nas reuniões de domingo. Acredito que seja bem divertido. Melhor que o “tio do pavê”, sem dúvida, ele é.
Quem já conhecia o Francisco José Espínola? Leriam O toque do criador? Comentem aqui!
Não o conhecia, mas a resenha me deu vontade de ler a obra.
ResponderExcluirParece ser daqueles livros que você acaba lendo rápido e nem sente.
Exatamente. Leitura de um tiro só.
ExcluirMuito interessante! Não gostei... Asmei!
ResponderExcluir(risos)
ResponderExcluirVai “asmar” ainda mais se mergulhar nessa leitura. Volte sempre!