4º Episódio - As Aracatienses

Imagem: Ygo Maia

Praça Dom Luís. Esse é o nome de uma praça muito tradicional de Aracati. Mas é popularmente conhecida como Praça da Coluna. É entretenimento garantido para todas as idades. Os garotos jogam bola, os mais velhos jogam dominó no fim da tarde, os apaixonados namoram, entre outras coisas mais. Quem mora nas redondezas acaba recebendo um rótulo de referência: “fulano mora lá perto da Coluna”. É o caso de Veridiana. Ela é “A vidente da Coluna”.

Veridiana é uma mulher divertida, alto astral, que tem o dom de ver o futuro. Até que um dia, ela teve uma visão que não a agradou nem um pouco.

— Cilene, eu acabei de ver uma coisa horrível.

— O que foi mulher? Mais um ministro caiu foi?

— Que mané ministro... Eu acabei de ver uma peixeira suja de sangue e depois me vi dentro de um caixão.

— Meu Deus! Misericórdia de ti, criatura!

Depois da conversa rápida no meio da rua, Cilene e Veridiana se despediram e cada uma seguiu seu rumo. Pouco depois, na praça, quase chegando em casa, Veridiana foi abordada:

— Passa a bolsa, passa a bolsa agora!

— Ai, credo! Que horror, moço! Já que eu vou morrer mesmo, por que o senhor não me mata de um jeito mais digno? Sei lá, algo como me atirar da ponte JK, ou quem sabe me convidar pra jantar e envenenar meu vinho branco, entendeu? O senhor me vem com essa peixeira velha vagabunda... Eu perco todo o prazer. Tenho horror a peixe.

— Ora, você quer chamar atenção é? Fica quietinha, minha senhora!

— Sim, sim... Serei sua quando o senhor quiser. Faz oito anos que um homem não me procura. Aliás, isso é a única coisa que eu posso lhe oferecer agora. Nessa bolsa eu não guardo nada de valor.

— Olhe aqui, eu cansei da senhora. Vá se lascar!

O ladrão foi embora soltando fogo pelas ventas. Aquela foi sua pior tentativa de assalto em dez anos de carreira bandida. Veridiana o venceu pelo cansaço e ainda ficou reclamando da sorte:

— Ponte que partiu! Não consigo conquistar nem um assaltante. Mas olhando por outro ângulo, eu até que consegui mudar a minha visão. Eu mereço coisa bem melhor.

E fica a dica: com uma pequena (ou grande) forcinha, qualquer um pode mudar o próprio destino.