Escrevo todos os dias. Sou fã de
papel e caneta. Guardo vários bloquinhos de notas dentro de caixas de sapato.
Pode parecer perda de tempo, já que depois eu acabo digitando tudo. É um
trabalho duplo, mas é assim que eu funciono.
Minhas poesias nascem primeiro em
mim, depois vão para o papel e, por último, para a tela do computador. É como
se nessa etapa uma parte de mim tivesse ido embora. A poesia que sai tão viva,
tão quente, passa a me encarar através daqueles olhos de vidro, frios, que não
dizem nada.
Gosto de rascunhos, porque poesia é também o que rabisco. É a linha
torta que marca o recomeço. É o papel que amasso e jogo fora. Há poesia no
corte severo do “t”. No pingo suave do “i”. Na curva preguiçosa do “r”. Na
imperfeição circular do “o”. Há poesia nas falhas. Na tinta que se recusou a
completar o traço. Há poesia até no que não escrevo.
Sinto que não me encaixo e
não é de hoje. Orkut? Não tive. Meus depoimentos eram feitos em agendas.
Celular? Meus dedos não são reféns dele. Gosto de sujar as mãos de tinta.
Difícil viver na era dos cérebros eletrônicos. Prefiro sentir exageradamente
sem a ajuda do Caps Lock. Sorrir sem ter que usar parênteses. Molhar o papel
com lágrimas, porque meu choro não cabe no apóstrofo de um teclado.
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