segunda-feira, 24 de outubro de 2022

#Resenha: "Unhas"

Título: Unhas 
Autor: Paulo Wainberg 
Ano de lançamento: 2010
Editora: Leya
Nº de páginas: 248



# A história 

Um homem casado e com filhos levava uma rotina tranquila de qualquer pessoa de classe média. O trabalho como contador era monótono e não o deixava satisfeito ao final do dia. Até a secretária dele se envolvia mais nos afazeres do escritório. Algo precisava mudar, e foi o que aconteceu. 

Certo dia, na recepção de um hotel, ele descobre sua verdadeira vocação após ouvir o desabafo de um sujeito que aparece transtornado. Nasce ali o exterminador de paixões proibidas, que atenderia pelo nome de Unhas, uma referência à sua obsessão por essa parte peculiar do corpo humano.

Quem encomenda as mortes, no mais absoluto sigilo, são sempre homens aparentemente normais, mas atormentados por uma paixão impossível: pai e filha, professor e aluna, irmão e irmã, padrasto e enteada… Uma dessas vítimas é Elisa, sequestrada sem entender ao certo por qual motivo.

No cativeiro, em um primeiro momento, tudo parecia ser apenas mais um caso para o assassino. No entanto, diante daquela jovem em pânico, ele se sente à vontade para revelar o que tem de pior dentro dele. É assim que mergulhamos na mente de um psicopata que mata por prazer.

# Opinião 

Julguei o livro pela capa e me dei mal. Porém, não foi no sentido convencional em que essa expressão é usada, quando julgamos previamente que a obra seja ruim por considerarmos a capa feia ou sem graça. Pelo contrário: achei a “embalagem” incrível e me decepcionei com o conteúdo.

O que vocês imaginam quando olham para um pé, uma tesoura de unha e algumas gotas de sangue derramadas em azulejos brancos? Eu penso logo em um serial killer torturador que tem como assinatura o ato de arrancar as unhas de suas vítimas com requintes de crueldade. Concordam?

Pois bem, não é nada disso que Unhas entrega. Aliás, o apelido do matador profissional e o próprio título do livro perdem o sentido em poucos capítulos. O assassino é obcecado por unhas, esforça-se para manter as suas impecáveis e repara se as vítimas têm esses mesmos cuidados. E acaba por aí. Depois de algumas páginas, essa peculiaridade vai se esvaziando e some do enredo.

A proposta inicial me deixou impressões positivas. Embora o jogo psicológico presente no sequestro de Elisa seja perturbador, é justamente ele que prende a nossa atenção e nos enche de expectativas. Ficamos com o coração na mão diante da frieza do assassino, que se diverte com o desespero da vítima. No entanto, toda a tensão dá lugar a um monólogo chato e enfadonho.

O tal “exterminador de paixões proibidas” se sente à vontade para contar suas histórias e suas aventuras para Elisa, que apenas escuta enquanto está ali amordaçada e apavorada. De cara, ele começa a citar passagens bíblicas, seres mitológicos e até um romance policial que leu outro dia. 

É uma sacada interessante porque conseguimos entender um pouco a visão que ele tem do mundo e da sociedade. Mas há um exagero nas referências. O livro mencionado parece servir de inspiração para os crimes de Unhas. O problema é que as tramas não se conectam! São capítulos e mais capítulos dedicados às histórias dessa obra, só enchendo linguiça e nos confundindo.

Outra coisa que me incomodou foi o tratamento dado a temas sensíveis, com certa romantização envolvendo abuso sexual, pedofilia e incesto, por exemplo. Então, deixo aqui o alerta de gatilho

As personagens femininas, as verdadeiras vítimas, são apresentadas como sedutoras e traiçoeiras. Já os personagens masculinos são retratados como cidadãos de bem, românticos e, conforme o matador denomina, “atormentados pela paixão”. Eles perdem a cabeça e contratam os serviços do assassino, relatando o comportamento das mulheres para justificarem os crimes. Oi?

Essa visão deturpada até faz sentido se pensarmos que existe um psicopata na jogada. Afinal, é a mente doentia dele quem comanda. Acontece que, em diversos momentos, não fica claro se as declarações e o posicionamento machista, sexista e misógino são do personagem ou do próprio autor. Em uma sociedade como a nossa, considero que as abordagens foram irresponsáveis.

De positivo, destaco os capítulos curtos, que tornam a leitura fluida e despertam a nossa vontade de continuar acompanhando a história. O autor escreve bem, com objetividade, sem firulas. É uma pena que a condução do enredo tenha deixado tanto a desejar.

Alguém já leu o livro Unhas? Comentem se vocês tiveram as mesmas impressões que eu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

AGORA QUE VOCÊ JÁ MERGULHOU NA LEITURA, DEIXE O SEU COMENTÁRIO. ELE É MUITO IMPORTANTE PARA O CRESCIMENTO DO BLOG. OBRIGADO!!!

Obs.: comentários ofensivos serão deletados.